sexta-feira, 29 de março de 2013

Ela respirava música,



A melodia preenchia-lhe os pulmões, dava-lhe cor a face e a transbordava de vida. A música lembrava-lhe o mar, sua respiração fluindo de acordo com seu ritmo, deixando-a sem fôlego com as idas e vindas da melodia, como ondas em um oceano gigantesco e vivido. Ela respirava música. Entrava por seus ouvidos, penetrava sua mente, corria por suas veias, entorpecia-lhe os sentidos, invadia seu espírito e dominava sua alma. Enchia sua cabeça com imagens e cores que não conhecia, se movendo delicada e vagarosamente, dando rodopios e se tornando cada vez mais frenéticas de acordo com a melodia, deixando-a sem fôlego, estasiada, perdida em meio a demasiada beleza. Ela respirava música. Cada uma tocava-lhe unicamente, tinham gosto, sabor, se materializavam em idéias, sensações. Pareciam-lhe sólidas, podia tocá-las, acaricia-las e senti-las, preenchiam-lhe o espirito e embalavam seu coração como uma mãe à um filho que chora. Tinha vontade de correr, dançar, gritar. Ela respirava música. Ela sentia cada onda de calor, cada arrepio que percorria seu corpo. Ouvia cada sussurro que ecoava dos instrumentos, até se misturar com o palpitar nervoso de seu coração. De repente, seu coração tocava a melodia, que ela seguia como num passo de dança. A música preenchia-lhe todos os centímetros do corpo, corria por entre seus dedos, parecendo-lhe quase palpável, e voava livremente pelo céu com o balançar de seus cabelos. Sentia as batidas ficando cada vez mais pesadas, lentas e densas, assim como seu coração uma vez em êxtase, agora mostrava seus últimos sinais de embriaguez. Os violinos e sopros iam ficando cada vez mais baixos e sublimes, assim como seus pulmões que se afogavam, submersos em meio aquela melodia que havia-a tomado conta. As imagens dançantes em sua mente, que em tanto brilhavam, agora repousavam na escuridão, como quem anuncia um fechar de cortinas ao final de uma peça. O silêncio prevalece, e da música, é só esse último sussurro que lhe resta.

terça-feira, 13 de setembro de 2011

Constante



Pequenos suspiros de liberdade que tendem a não sessar, se condensando em ternas lágrimas em seu rosto azul. Sombrio e gélido como a morte todavia feliz e ingênuo como uma criança, com milhares de diferentes emoções ainda virgens. Nasce com suas bochechas rosadas e adormece no sublime laranja que preenche minha janela seguido do brilhar de suas lágrimas mergulhado no inifinito. Este é o pequeno mundo que vejo da minha janela.

terça-feira, 23 de agosto de 2011

Feche os olhos, mas deixe a mente bem aberta.



Deitada na cama, de barriga pra cima, braços abertos, fecha os olhos. Os abro. As paredes cospem palavras esdruxulas repetidamente, todas as quatro como velhas senhoras falando ao mesmo tempo em um timbre extremamente alto.
Som insurdecedor, muito agudo. Machucava seu ouvidos. Ela grita: - Calem suas enormes bocas, paredes. Que há de quererem logo agora falar? - mas elas continuam, sua cabeça começa a doer muito, e ela chora de dor. Seus ouvidos parecem que vão sangrar, e ela hoive um pequeno estouro e o som começa rapidamente a se dissipar, como se ela estivesse ficando surda. Seus cabelos começam a flutuar, e de seu nariz saem bolhas, como se fossem águas vivas. A cima de sua cabeça, o sol batia no quarto e mostrava um ambiente azul. Ela sai do chão. Fica flutuando poucos centimetros acima da cama. Peixes de cores diversas saiam por debaixo da cama e dentre seus cabelos.
Grandes carvalhos começam a emergir no chão branco do quarto, os peixes ainda flutuando viram-se do avesso e suas tripas vão as poucos virando largos chipós que se prendem às árvores. Ela cai na cama.
Não há mais água, e ela encara o mar do teto de seu quarto se dissipando e ficando bem clarinho, com alguns borões brancos. Ela ouve som de pássaros e cheiro de eucalipto. Ela quis se levantar da cama, mas não pôde. Estava presa, olhou para a cama, era pura areia. Areia movediça. Tudo havia virado deserto, só aquela imensidão amarela que cobria seu corpo e tudo ao redor. A cama a engoliu.
Abriu os olhos. Estava tudo no seu devido lugar. Seu teto era branco e de cimento. Móveis no lugar. Ela se sentou na cama e alisou seus cabelos, havia algo preso. Uma folha, e o chão de seu quarto estava encharcado.

domingo, 21 de agosto de 2011

Quarto novo, Vida nova



Hoje tive um súbito momento de raiva incontrolável e arranquei todos os posters espalhados pelas paredes. Eu acredite, não são poucos.
Varri o chão, esfreguei as paredes, lavei o chão e mudei todos os móveis de lugar. Demorei mais de uma hora, para ser exata, foram 19 músicas de um maravilhoso cd de heavy metal desconhecido. Foi divertido.
Pude extravazar minha raiva pseudo-maniaca em posters imbecis, e agora começa a nova temporada para arrumar meu quarto! hohoho

Parece que quando muda algo de lugar muda tudo a sua volta. E é verdade! Além disso mudar faz bem, eu recomendo e acho muito saudável. Só não mude pra pior, por favor, tentem sempre serem melhoresmeus queridos fantasmas.

sexta-feira, 29 de julho de 2011

Portas da Alma



Lá fora as janelas choram, suas lágrimas cristalinas rastejavam sobre elas carinhosamente, e levavam toda a sujeira que as infestavam antes. Depois de uma noite inteira chorando, as janelas viram o sol e ele delicadamente secou suas lágrimas, reconfortando-as. As janelas transpareceram, pois depois de tanto sofrimento finalmente estavam livres do que lhes era insignificante, que cobria a visão delas e de todos com quem vivia. Finalmente ela podia compreender quão lindo era o lado de fora, e igualmente eles podiam compreender como elas eram em seu interior, expressando total transparência.

terça-feira, 12 de julho de 2011

O Inquilino



A chuva caia forte do lado de fora, como balas que ricocheteavam contra o telhado que naquela noite parecia estar dando conta da tempestade. Aquele fim de tarde em especial estava nublado, fazendo parecer aquela desabitada rodovia um lugar que poucos se arriscariam a cruzar. Os acovardados evitavam aquela estrada esburacada porque por lá corria o boato de um homem insano que matava a sangue frio os que por lá passavam. O velho chalé foi improvisado à alguns anos atrás, e nada de ruim nunca havia acontecido a quem morava lá; o homem esquentava água em uma chaleira em cima de seu fogão à lenha tranquilamente enquanto ouvia a sinfonia de pingos que metralhavam sua casa. Um som esplêndido, que o tentava a deitar-se.
De repente, passos pesados foram ouvidos do lado de fora da casa, alguém estava caminhando em meio àquela chuva infernal, alguém sem pressa, que parecia não se importar em ficar totalmente molhado. O homem fica tenso por alguns instantes vendo pelo vidro a figura se aproximar vagarosamente da porta, e dar três batidas sonoras, que ecoaram pela casa, e, por alguns instantes, aquelas batidas pareceram tomar conta de todo eco existente na casa, e superar a chuva que batia violentamente no telhado. O homem, por fim abriu a porta devagar, e o ranger das dobradiças foi a única coisa que quebrava aquela macábro silêncio que se instalava no local. A figura sem forma que caminhava pela rua era uma mulher. Ela aparentemente havia quebrado o pé quando a chuva começou, e andou quilômetros até avistar o velho chalé, estava encharcada, e perguntando se poderia passar a noite em sua casa. O senhor foi muito afável com a moça e a deixou entrar, abrindo a porta e fazendo um gesto para que entrasse e se acomoda-se. Ofereceu chá que acabara de esquentar, a jovem aceitou, agradecida e o homem foi para trás da bancada que havia perto do fogão, e de lá tirou uma faca, e, enquanto a garota falava de costas para ele, sentada em uma confortável poltrona de como a estrada era vazia e desabitada, ele olhava para ela com um sorriso maníaco e olhos arregalados para ela, em silêncio, e por fim, quando a moça se virou ele ja se aproximava silenciosamente da porta e a trancava. Soltou uma gargalhada sonora de satisfação que ecoou pela rodovia, e logo depois se ouviram gritos.

sábado, 9 de julho de 2011

A Excência da Loucura



Frenesi estonteante que abate minha lucidez. Delírio compulsivo que penetra em minha mente.
Realidade não é o que nos prende ao chão mas sim o que nos cerca. Minha realidade é baseada na insanidade de viver este sentimento demasiadamente louco e incompreendivel; Imersa em pensamentos esquizofrénicos e supérfluos penso em você como sendo a parte mais exaltante de ser absurdamente estranha.
Se um dia estiver caindo, eu irei te segurar e posso até ser seu chão se preciso. Não precisamos ser prudentes ou perspicazes para sermos felizes, nós podemos viver nossa própria desnorteada realidade. Mas que se foda, afinal, estamos mortos.

Você sabe qual a semelhança entre um corvo e uma escrivaninha ?

Neto