terça-feira, 23 de agosto de 2011

Feche os olhos, mas deixe a mente bem aberta.



Deitada na cama, de barriga pra cima, braços abertos, fecha os olhos. Os abro. As paredes cospem palavras esdruxulas repetidamente, todas as quatro como velhas senhoras falando ao mesmo tempo em um timbre extremamente alto.
Som insurdecedor, muito agudo. Machucava seu ouvidos. Ela grita: - Calem suas enormes bocas, paredes. Que há de quererem logo agora falar? - mas elas continuam, sua cabeça começa a doer muito, e ela chora de dor. Seus ouvidos parecem que vão sangrar, e ela hoive um pequeno estouro e o som começa rapidamente a se dissipar, como se ela estivesse ficando surda. Seus cabelos começam a flutuar, e de seu nariz saem bolhas, como se fossem águas vivas. A cima de sua cabeça, o sol batia no quarto e mostrava um ambiente azul. Ela sai do chão. Fica flutuando poucos centimetros acima da cama. Peixes de cores diversas saiam por debaixo da cama e dentre seus cabelos.
Grandes carvalhos começam a emergir no chão branco do quarto, os peixes ainda flutuando viram-se do avesso e suas tripas vão as poucos virando largos chipós que se prendem às árvores. Ela cai na cama.
Não há mais água, e ela encara o mar do teto de seu quarto se dissipando e ficando bem clarinho, com alguns borões brancos. Ela ouve som de pássaros e cheiro de eucalipto. Ela quis se levantar da cama, mas não pôde. Estava presa, olhou para a cama, era pura areia. Areia movediça. Tudo havia virado deserto, só aquela imensidão amarela que cobria seu corpo e tudo ao redor. A cama a engoliu.
Abriu os olhos. Estava tudo no seu devido lugar. Seu teto era branco e de cimento. Móveis no lugar. Ela se sentou na cama e alisou seus cabelos, havia algo preso. Uma folha, e o chão de seu quarto estava encharcado.

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