sexta-feira, 29 de março de 2013

Ela respirava música,



A melodia preenchia-lhe os pulmões, dava-lhe cor a face e a transbordava de vida. A música lembrava-lhe o mar, sua respiração fluindo de acordo com seu ritmo, deixando-a sem fôlego com as idas e vindas da melodia, como ondas em um oceano gigantesco e vivido. Ela respirava música. Entrava por seus ouvidos, penetrava sua mente, corria por suas veias, entorpecia-lhe os sentidos, invadia seu espírito e dominava sua alma. Enchia sua cabeça com imagens e cores que não conhecia, se movendo delicada e vagarosamente, dando rodopios e se tornando cada vez mais frenéticas de acordo com a melodia, deixando-a sem fôlego, estasiada, perdida em meio a demasiada beleza. Ela respirava música. Cada uma tocava-lhe unicamente, tinham gosto, sabor, se materializavam em idéias, sensações. Pareciam-lhe sólidas, podia tocá-las, acaricia-las e senti-las, preenchiam-lhe o espirito e embalavam seu coração como uma mãe à um filho que chora. Tinha vontade de correr, dançar, gritar. Ela respirava música. Ela sentia cada onda de calor, cada arrepio que percorria seu corpo. Ouvia cada sussurro que ecoava dos instrumentos, até se misturar com o palpitar nervoso de seu coração. De repente, seu coração tocava a melodia, que ela seguia como num passo de dança. A música preenchia-lhe todos os centímetros do corpo, corria por entre seus dedos, parecendo-lhe quase palpável, e voava livremente pelo céu com o balançar de seus cabelos. Sentia as batidas ficando cada vez mais pesadas, lentas e densas, assim como seu coração uma vez em êxtase, agora mostrava seus últimos sinais de embriaguez. Os violinos e sopros iam ficando cada vez mais baixos e sublimes, assim como seus pulmões que se afogavam, submersos em meio aquela melodia que havia-a tomado conta. As imagens dançantes em sua mente, que em tanto brilhavam, agora repousavam na escuridão, como quem anuncia um fechar de cortinas ao final de uma peça. O silêncio prevalece, e da música, é só esse último sussurro que lhe resta.

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